Indy se inspira em Nascar e planeja adotar sistema de franquias no campeonato

Ainda encontrando resistência de equipes, Indy espera que sistema dê privilégios e valor de mercado para times do grid atual

A Indy está prestes a apresentar uma atualização de seu plano para a criação do programa de ‘charters’ na categoria, o que garantiria a esses carros classificação em todos os eventos da temporada, incluindo as 500 Milhas de Indianápolis — idêntico ao que a Nascar já faz. A Penske Entertainment, proprietária do campeonato, está confiante de que a proposta será aprovada no mês que vem, privilegiando as atuais equipes e gerando valor agregado a elas como espécies de franquias, algo bem tradicional nos esportes americanos.

A ideia é se assemelhar ao que acontece na Fórmula 1 e na Nascar — que, inclusive, adotou os charters, ou seja, número fixo de carros garantidos por time, em 2016. Nas duas categorias citadas, cada equipe ou carro possui valor além da estrutura, o que se torna um negócio lucrativo para os dirigentes dos times.

Quem já se beneficiou desse modelo de negócios foi a Ganassi. Em 2021, por um valor “irrecusável”, Chip Ganassi vendeu sua operação na Nascar para a Trackhouse por um preço muito além do que a estrutura material valia.

A Indy não quer que se repita o que aconteceu com a Carlin, que deixou a categoria em 2021 após quatro temporadas. O time vendeu sua estrutura para a Juncos, que efetivou a compra pelo preço dos carros e equipamentos, sem que isso representasse um lucro ao time de origem britânica.

Indy espera gerar valor agregado para equipes (Foto: Indycar)

Atualmente, não existe uma barreira ou valor de mercado para estar na Indy. Qualquer interessado tem, por enquanto, caminho livre para adquirir ou alugar o chassi Dallara IR-18, fazer o leasing do motor Honda ou Chevrolet, montar a estrutura e se inscrever em um GP.

Além de agregar valor aos seus participantes, a Indy acredita que, indiretamente, possa permitir aos membros das franquias melhores acordos de patrocínio — principalmente para as 500 Milhas de Indianápolis. O lugar garantido na tradicional prova também confere às marcas exposição em uma das maiores audiências do automobilismo norte-americano.

Entretanto, até aqui, sempre que a Indy abordou a ideia dos charters foi acompanhada de polêmica. Em São Petersburgo, no início do mês, os dirigentes da Penske Entertainment sugeriram o valor de US$ 1 milhão [aproximadamente R$ 5 milhões] por charter, o que garantiria o carro em todas as provas da categoria e evitaria o drama da eliminação na Indy 500. Na ocasião, Michael Andretti vociferou contra Roger Penske. “Roger, não pegue nosso dinheiro. Você comprou a categoria, não somos donos da Indy”, falou, à época.

Segundo o proprietário da Andretti, a Indy destacou que utilizaria o montante arrecadado para investir na promoção da categoria. Na visão do dirigente, o valor seria insuficiente para que o campeonato desse um salto de relevância no automobilismo e, na sequência, sugeriu que Penske “invista ou venda” a organização.

Michael Andretti é contra sistema proposta pela Indy (Foto: Divulgação)

Dessa vez, após praticamente um mês de ajustes à proposta apresentada na Flórida, Mark Miles, CEO da Penske Entertainment, confia estar perto da solução definitiva.

“Várias conversas têm ocorrido e teremos mais. Acho que entenderam que todos os desejos individuais não serão atendidos, pois não são todos que querem a mesma coisa. O importante é que começou [a negociação] e espero que [esteja acertado] antes da Indy 500”, declarou Miles à revista americana Racer.

“Não estou preocupado com todo mundo vendo o que poderiam ter pensado, no que deveria ser um componente [do acordo]. Nós vamos começar, espero que possamos chegar ao equilíbrio”, prosseguiu.

A última proposta feita pela categoria para as equipes indicava 25 charters disponíveis, sendo o máximo de três por equipe. O número é menor do que os 27 carros que disputam a temporada 2024 da Indy e o único time que não estaria 100% adequado ao plano é a Ganassi, que tem cinco representantes este ano — Álex Palou, Scott Dixon, Linus Lundqvist, Marcus Armstrong e Kyffin Simpson.

Kyffin Simpson tem aporte financeiro importante para Ganassi (Foto: Indycar)

A ideia não obrigaria a Ganassi a reduzir sua operação, mas dois bólidos não teriam vaga garantida em todas as corridas, o que abre margem para discussão. A família de Simpson coloca montante expressivo na equipe com o patrocínio da Ridgeline e não seria interessante ver o caimanês desclassificado de alguma corrida. Poderia o time deixar um charter para o piloto e Palou ou Dixon ficarem fora do sistema, pois dificilmente seriam eliminados na classificação? Isso é algo que não está determinado.

“O conceito é de três por equipe e todo mundo que correu no ano passado, exceto dois, estaria dentro. O limite seria 25 por conta dos charters. Fora da Indy 500, o limite seria de 27 carros [na pista], duas vagas para quem se classificar”, ressaltou.

Não seria somente esse ponto para a Indy resolver. Existem outras equipes interessadas em ingressar em tempo integral a categoria, mas que não teriam direito ao charter — nem mesmo a Dreyer & Reinbold e a Abel, que competiram na Indy 500 em 2023 e vão correr em 2024. Pratt Miller e a Prema declararam recentemente que podem fazer parte do campeonato a partir do próximo ano, fazendo o grid ficar com cerca de 30 carros. Se o sistema sugerido entrar em vigência, a iniciativa desses times pode ficar somente no papel.

“Tenho certeza que Dennis [Reinbold] quer correr a Indy 500 e outras, que é uma questão de orçamento. Mas a resposta para ele e qualquer outro é: pode vir correr, vai concorrer a um prêmio em dinheiro, mas precisa se classificar em todas as corridas. Isso não vai impedir ninguém de competir”, disparou Miles.

Dennis Reinbold é um dos donos da Dreyer & Reinbold (Foto: Joe Skibinski/IndyCar)

A Indy também pretende limitar o Leaders Circle, prêmio de cerca de US$ 1 milhão [aproximadamente R$ 5 milhões] para os charters. Porém, a categoria vai continuar bonificando somente os 22 melhores, deixando três deles sem este montante.

Outro desafio — e que é um pedido antigo dos fãs — vai ser dar mais relevâncias para as corridas além das 500 Milhas de Indianápolis. Atingir esse objetivo pode ser fundamental para ter sucesso com franquias, afinal, com maior exposição e retornos nos GPs, todos os envolvidos se valorizam e faturam mais. A partir disso, dificilmente algum time vai se opor a pagar US$ 1 milhão por carro.

Outro ponto que a Penske Entertainment vai precisar trabalhar é no percentual dos direitos televisivos que será distribuído entre os participantes, algo já bem estruturado na Fórmula 1 e na Nascar — bem como nas grandes ligas dos esportes nos Estados Unidos. Mas para a discussão chegar nesse ponto, a categoria precisa definir seu acordo de transmissão, que expira ao final de 2024 nos EUA.

A organização também espera ter uma parte de cada um dos charters, visando participação em futuras comercializações. Nas primeiras conversas, a ideia foi dividir em 50%, o que não agradou os chefes de equipe. Deve ser um ponto sensível na próxima rodada de negociações.

Long Beach é o palco da próxima etapa da Indy. A categoria retorna ao circuito de rua da Califórnia no próximo dia 21 de abril, com cobertura completa do GRANDE PRÊMIO.

 Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2
 Conheça o canal do GRANDE PRÊMIO na Twitch clicando aqui!

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Indy direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.